Travel Blog Joao Cajuda

Patagónia – Chile e Argentina

Patagónia – Chile e Argentina

Patagónia, um dos lugares mais remotos e desertos do planeta, só por isso já adoro eheh. Já há muito tempo que queria conhecer esta zona da América do Sul, a razão é mais que óbvia, as paisagens! Glaciares, lagos, montanhas, cascatas, uma fauna e flora incrível… Aqui vais encontrar a natureza no seu estado mais puro. Andei por lá duas semanas, corri desde Buenos Aires até à cidade mais a sul do mundo, Ushuaia. Foram mais de 3000km de estrada, num carrinho que até se portou muito bem, ninguém diria dado o tamanho dos pneus que pareciam mais de uma scooter e tendo em conta que os caminhos são na maioria de terra batida. Neste post vou relatar um pouco da minha viagem e dar-te dicas para que a tua seja também inesquecível.

Quando ir?

Os melhores meses para visitar a Patónia é entre Novembro e Março. Sendo uma das regiões mais extremas do planeta as temperaturas e condições atmosféricas nos restantes meses tornam impossível, ou pelo menos bastante doloroso e complicado a sua visita. Mesmo sendo verão as temperaturas raramente ultrapassam os 15ªC, mas também não baixam dos 0ºC durante a noite.

Como ir?

Tens de ir obviamente de avião até Buenos Aires ou até Santiago do Chile, e depois apanhar um voo para El Calafate ou Ushuaia… podes começar a viagem desde o sul e rumar a norte ou vice-versa. Eu comecei por El Calafate, a zona mais a norte da Patagónia. O voo de Buenos Aires foi comprado à ultima da hora e custou 250€.

Transportes

Movimentar-se na Patagónia não é muito fácil. Existem sim autocarros, e são basicamente a única opção. Eu aluguei um carro porque gosto de ter a liberdade de parar para filmar e fotografar quando quero, para além de que uma road trip com amigos é sempre mais emocionante. Os autocarros segundo o que vi têm óptimas condições, mas geralmente existe 1 a 2 por dia e esgotam rapidamente. O aluguer do carro é extremamente caro, devem alugar online com vários meses de antecedência para não terem uma surpresa desagradável à chegada… Até porque esgotam muito rapidamente.

Onde dormir?

Torres Del Paines – Ecocamp Patagonia

Localizado nos enormes vales verdes com vista privilegiada para as famosas Torres de Paine, o Ecocamp é o local ideal para te hospedares quando visitares este lindíssimo parque. O hotel está inserido de forma discreta na natureza, os quartos em forma de cabana (inspirados na arquitectura da ancestral tribo Kaweskar) estão cercados de vegetação que se misturas com as cúpulas propositadamente verdes dos domes.

Torres Del Paine – Patagonia Camp

O Patagonia Camp é o mais luxuoso hotel de Torres del Paine. Localizado nas margens do lindíssimo lago Toro e com vista para as montanhas do parque. Fica a apenas 15km do parque de Torres del Paine e a 74km da cidade de Puerto Natales.

 

El Chaltén – Destino Sur Hotel y Spa de Montaña – Bonito hotel, muito acolhedor, bons quartos, bom pequeno-almoço. É muito central e perto de restaurantes e o acesso ao Spa é gratis 1h por dia mas é necessário reservar.

El Calafate – Imago Hotel And Spa – Hotel engraçado, moderno, com um pequeno almoço agradável. Os quartos são bons tendo em conta o preço. É distante do centro da cidade, aconselho só a quem tiver carro.

 

Punta Arenas – La Casa Escondida – Simpático hotel mas longe do centro da cidade.

Ushuaia – Boa sorte! Os hotéis são muito caros e terríveis. O meu era muito datado, é uma viagem aos anos 80 e só compensa para quem tem carro. O staff era simpático, o pequeno-almoço pavoroso! Hotel Ushuaia

 

DICAS

  • Atenção as fronteiras entre o Chile e a Patagónia fecham às 22H, a partir dessa hora não é possível cruzar os países.
  • Não é possível cruzar fronteiras com frutas e sandes feitas.
  • As estradas são na maioria de terra batida, se alugares carro confere que tens outro pneu de substituição.
  • Não leves casaco de neve, leva antes várias camadas finas de roupa, durante as caminhadas vais ter muito calor. Embora de noite faça muito frio.
  • Botas de trekking não recomendo, eu levei as minhas e arrependi-me. Uns ténis leves, confortáveis e à prova de água para as caminhadas são perfeitos.
  • Levar uma garrafa termica para encheres de água, nos hotéis não há garrafas de plástico e se não levares vais ter de comprar uma lá (mais cara).
  • Aluga carro com vários meses de antecedência.
  • Não existem muitas caixas multibanco, por isso convém teres sempre dinheiro. Podes levantar no aeroporto e nas grandes cidades. Cartões de crédito e débito são aceites em todos os hotéis.
  • No Chile é costume deixar 10% de gorjeta nos restaurantes. É simpático dar uma tip ao guias ou pagar uma cerveja!
  • Cuidado com o vento! A Patagónia é muito ventosa, sempre! Tem atenção quando estiveres a conduzir pois o carro foge muito da estrada. Tem também cuidado quando estiveres perto de precipícios, uma rajada de vento surpresa pode acabar com a brincadeira.
  • Levar e usar sempre protector solar, mesmo quando não estiver sol é certo que vais apanhar um escaldão! Óculos de sol também são importantes!
  • Na Patagónia a criminalidade é quase inexistente. Podes andar à vontade!
  • A Internet existe em quase todos os hotéis, nem sempre é rápida. Comprar um SIM card é a melhor opção.
  • Em Torres del Paine não existe rede telemóvel em grande parte do parque.

 

A Aventura

Como disse anteriormente, fiz todo o percurso de carro, mas conheci gente na estrada que tinha vindo desde os Estados Unidos à boleia, outros de bicicleta, imaginem…

Cheguei a El Calafate na Patagónia Argentina. A Patagónia é uma região cara, nunca aluguei um carro tão caro (e escolhi o mais barato), movimentar-se de uma região para outra nem sempre é fácil, existem autocarros, mas não são muitos e esgotam com facilidade. Por essa razão se vê tanta gente à boleia e com a tenda às costas. Seguimos em direcção a El Chaltén, de longe a zona que mais gostei e a qual recomendo vivamente. El Chaltén é uma pequena cidade, parece saída do Twin Peaks… no meio do nada, estradas largas, casas de madeira… antigamente durante o inverno ninguém vivia aqui. Aqui pode fazer-se inúmeros trekkings, alguns de horas, outros de dias, outros de semanas. O tempo não é muito e só tenho dois dias para me aventurar naquelas bandas.

Queria muito conhecer o Fitz Roy, homenagem ao capitão do navio que levou Charles Darwin na sua volta ao mundo. A montanha é imponente, quem a vê ao longe não imagina a canseira que é subir até lá cima (21km ida e volta). A sua altura é de 3375m, nós, viajantes comuns com sorte e muito esforço subidos até aos 1400m onde se encontram as duas lagoas, uma imagem que tanto tem de absurda como de inspiradora. Ali estava eu, descalço porque não aguentava mais o peso das bocas e deitado numa rocha pois não aguentava o tremer das pernas depois de 5 horas a subir. Fiquei ali a apreciar aquele espectáculo que é a terra. Já vos disse que é um dos lugares mais incríveis em que estive? Se pensam que descer é mais fácil esqueçam lá isso, parece que o caminho não tem fim e dou por mim a falar sozinho “Nunca mais…!”.

Seguimos caminho de novo até El Calafate, vamos pernoitar na cidade e de manhã cedo fazer um trekking em cima do famoso Perito Moreno, como vêm o meu “Nunca mais” é sinónimo de “amanhã de manhã estou noutra…”. O Perito é um dos maiores glaciares no mundo e um dos poucos que se regenera, a massa que perde com o descongelamento é igual à que se forma. É o mais famoso glaciar da Patagónia, percebo porquê, a sua cor azul é de facto incrível. Andei lá por cima sempre com algum receio (confesso) que aquilo cedesse e lá ia eu por ali abaixo. Felizmente não aconteceu e ainda terminei a caminhada a beber um whisky com gelo da época dos dinossauros, aqui o interessante não são os anos que a bebida tem, é mesmo a idade do gelo do glaciar. Para quem não quiser arriscar tanto, pode no entanto apreciar a beleza deste lugar confortavelmente de um miradouro, recomendo que vá com tempo para poder ficar à espera do som do Perito.

 

Ainda são 4 da tarde mas para mim já era tarde, tinha de conduzir 7 horas até Torres del Paine. Não estaria preocupado se a fronteira não fechasse às 22:00H e não fosse a estrada de terra batida. Vá lá… cheguei faltavam 5 minutos para fechar e os polícias estavam com tanta pressa para ir para casa que nem me obrigaram a tirar as malas do carro para as revistarem.

Torres del Paine é uma das regiões mais conhecidas do Chile pela sua beleza natural, aqui há lagos, montanhas, glaciares, rios, cascatas… é de facto um local mágico e cheio de aventureiros, tudo com a casa às costas. Obviamente que aqui fiz mais uns trekkings, eh eh, 17km até ao Vale Francês – que é lindo – e no dia seguinte uma caminhada de 10 horas para chegar a Cierro Paine, a melhor vista da região. Claro que ao terceiro dia disse, “desculpem lá mas eu vim de férias e vou ficar a beber o meu chocolate quente aqui no hotel” (como se vê na foto!).

Segui viagem até Punta Arenas, a cidade é engraçada, tem uma arquitectura bonita e há uma geração de artistas novos que faz questão de espalhar arte pelas ruas. A razão que me trouxe até aqui foi a ilha Magdalena, famosa por ter mais de 100.000 pinguins Magalhães (sim o nosso Magalhães). De facto é um animal muito amistoso, tive quase para trazer um para casa. De repente parecia que estava na Times Square dos pinguins, uns gritavam, outros corriam, outros pescavam, uma verdadeira loucura.

 

Fui em busca do silêncio, esse outro luxo que hoje em dia é cada vez mais difícil de encontrar. Tinha centenas de km’s para fazer até Ushuaia, a cidade mais perto da Antárctida.

A “estrada do fim do Mundo” como lhe chamam é incrível, são horas e horas sem se ver uma alma. De vês enquanto lá aparecem uns locais, os Guanacos, muito assustadiços, provavelmente por não estarem habituados a ver humanos todos os dias. Não há rede de telemóvel, não há wifi,  nem rádio apanhamos, aqui ou falamos uns com os outros ou ficamos em silêncio… e sabe tão bem! Ainda te lembras? Será hoje em dia o maior dos luxos estar offline? Quando é que foi a última vez que ficaste uma semana sem ir ao Instagram, sem abrir o e-mail, sem ligar o telefone e ouvir aquele toque irritante do WhatsApp… daqueles mil grupos de “amigos” que enviam basicamente nada a toda a hora? Somos diariamente inundados por poluição digital, e sem nos apercebermos somos viciados nela. Hoje tudo tem de ser fotografado, partilhado, mapeado… vivemos num mundo de dados e informação. Temos necessidade de nos sentir validados pelos outros… Para quê? Será tudo isso uma perda de tempo? Eu contra mim falo, ainda assim sou o primeiro dos meus amigos a ficar feliz por estar desconectado. Saber estar offline é hoje em dia essencial para poder experienciar a beleza das pessoas, dos lugares, das emoções que nos rodeiam, e a Patagónia é o local ideal para isso.

LOCAIS IMPERDÍVEIS

  • El Chaltén
  • Subir o Fitz Roy até às mirador de los três.
  • Lago Viedma
  • Lago Argentino
  • El Calafate
  • Glaciar Perito Moreno
  • Torres Del Paine
  • Trekking no Vale Francês – Torres del Paine
  • Trekking até Cierro Paine – Torres del Paine
  • Puerto Natales
  • Ilha Madgalena
  • Viagem até Ushuaia (a cidade não é nada de especial, mas toda a viagem até lá é muito bonita)